Finalmente a chuva prometida despenca
dos céus, mas ninguém arreda o pé da
quadra, todos aguardam ansiosos pelo
desfecho do desafio. E que disputa meus
amigos!
Harry luta em busca de ar. Não ousa
comemorar a vitória para não piorar ainda
mais a situação. Imagina que Nina esteja
furiosa e não quer acordar o furacão que
existe dentro dela.
Do outro lado da quadra, a garota olha para
o nada, apática. Seus braços estão caídos
rentes ao corpo, a cabeça da raquete tocando
o saibro. Inconformada, ela solta o
equipamento e arranca as munhequeiras.
A chuva é fininha e morna, mas não lava a
alma de Nina. Desconsolada, ela mira as
mãos trêmulas após o vigoroso esforço. Não
se conforma por ter perdido o jogo.
A turma invade a quadra, cobrando o
pagamento da aposta. Nina ouve o
murmurinho lá longe, como se estivesse a
quilômetros de distância. Bem que ela
gostaria de estar.
Nathália estende uma garrafa d’água.
— Não acredito que perdi. – Nina solta a
frase num tom de desabafo.
— Você lutou até o fim, nunca vi um jogo
desses na minha vida. – Lais toca o ombro da
amiga, consolando-a.
— Beba essa água. É para dar coragem. –
Nathi incentiva.
— Nathi! – Lais estressa. – Você não está
ajudando!
— A Nathi tem razão. Agora terei que
pagar a aposta. – sem parar para respirar,
Nina mata todo o conteúdo da garrafa. Ainda
não teve coragem de olhar para Harry. Sente
como se o mundo estivesse em suspenso,
aguardando. Bem, se o mundo está
aguardando eu não sei, mas eu e toda essa
galera estamos!
— Acabe logo com isso. – Lais pega a
garrafa vazia das mãos de Nina. – Vá lá e
pague logo essa aposta.
Vencida, destroçada e humilhada, Nina se
põe a caminhar, cabisbaixa. Harry do outro
lado da rede, joga a cabeça para trás e deixa
a água da chuva eliminar o excesso de suor
do rosto. Ele sente como se tivesse sido
atropelado por um Hummer.
Nina se aproxima e lhe estende a mão,
como adversários costumam fazer. O
cumprimento de Harry é frouxo. Assim como
Nina, ele também está com todos os
músculos enfraquecidos.
— Nunca vi ninguém jogar como você. –
Harry afirma, apoiando-se no ombro de
Gancho.
— Não foi o suficiente. – ela faz uma força
descomunal para não sair correndo. Bem,
como poderia? Suas pernas não obedeceriam
ao comando “corra, agora”.
— O que querem fazer? A aposta precisa
ser paga e a galera está impaciente. –
Gancho limpa a garganta, temeroso com a
reação de Nina.
— Aposta é aposta. E eu costumo cumprir
minha palavra. – Nina deseja que um raio
lhe caia na cabeça nesse exato momento.
— Tem certeza disso? Olhe, se você não
quiser, por mim tudo bem. – Harry se apressa
em dizer.
— Eu tenho palavra, Harry. Fiz a besteira de
apostar, não foi? Agora cumprirei minha
parte no acordo.
Nathália puxa Gancho de lado. A chuva
pinica a pele e todos estão ensopados. Um
raio abre o céu em duas partes, iluminando-o
de maneira fantasmagórica. Logo o barulho
do trovão se faz ouvir, retumbando fundo e
sacudindo as estruturas.
— Dê espaço a eles. Mantenha essa galera
fora da quadra. – Nathi sussurra no ouvido
do pirata.
— Concordo. – Gancho então providencia o
que Nathália pediu.
Nina e Harry se encaram, demoradamente.
Ela sente como se seus ossos tivessem se
transmutado em gelatina. O rosto pega fogo
e as mãos estão geladas, ainda trêmulas. O
coração batuca acelerado e os joelhos
bambeiam quando ela pensa no que
acontecerá nos próximos minutos.
— Se não quiser pagar a aposta, não
precisa. – Harry reitera.
— Se eu tivesse ganhado o jogo, você
pagaria a aposta, certo? E olhe que eu pensei
em fazer barbaridades com você. – Nina
força um sorriso.
— Sério mesmo? Bom – Harry faz uma pausa
–, eu aguentaria a pressão.
— Também aguentarei. Não quebro fácil,
Harry, acho que já provei isso.
Após enxotar a turma para fora da quadra,
Gancho mira o relógio de pulso. Meninos e
meninas permanecem de pé na
arquibancada, num entusiasmo que não foi
visto durante o jogo. Esse pessoal adora um
babado forte.
— Vai mesmo levar isso adiante? – Nathi
pergunta para uma abatida Nina.
— Não sou de fugir, você me conhece. – a
amiga responde, tristemente.
— Um minuto, correto? – Gancho aperta
uma tecla no relógio de pulso, acendendo o
cronômetro.
— Um minuto. – Nina confirma, sentindo-se
fraquejar.
— Ok. Em suas marcas. – Gancho aguarda.
Nina se aproxima de Harry o suficiente. –
Preparar. – Harry abaixa a cabeça e sente um
frio esquisito na barriga. Os lábios estão tão
próximos que Nina inspira a expiração dele. –
Já!
As bocas se tocam. No início, de maneira
tímida, comportada. Os lábios de Harry a
envolvem com doçura e Nina sente choques
elétricos percorrerem toda a extensão da
pele.
A barba por fazer massageia o rosto de
Nina, sem arranhar. Passados alguns
segundos, a garota é tomada por uma força
do além e ela deseja mais, anseia por tudo.
Harry sente o mesmo frenesi. As mãos que
estavam ao lado do corpo, rasgam a chuva e
se enlaçam à cintura dela, trazendo-a para
mais perto. Nina envolve o pescoço dele,
seus dedos se agarrando fortemente aos
cabelos ensopados do garoto.
É para ser um beijo de língua, confere?
Sim! As línguas invadem a cena num duelo
intenso e Nina vasculha cada centímetro da
boca de Harry, sentindo-se preenchida,
completa.
O cara está maluco, a ponto de entrar em
combustão espontânea. Arqueia o corpo para
frente e tomba a cabeça de lado, buscando
aplacar a sede intermitente. Ávido,
selvagem, inflamado.
E os segundos vão passando.
Nina se esquece por completo da plateia.
Neste momento só os dois existem. A chuva
continua a cair, tão fininha que não chega a
atrapalhar. Harry investe mais fundo e Nina
sente o corpo em chamas. O coração
enlouquece dentro do peito e ela se dá conta
de que está frágil, entregue, completamente
perdida.
Harry a segura como se não fosse soltar
nunca mais. Ele não quer que acabe, não
quer que o minuto passe. Mas passará e tudo
voltará a ser como era antes. Ou não?
— Ok. Aposta cumprida! – Gancho grita e a
galera vaia, querendo mais, muito mais!
É difícil pararem de se beijar. Nina precisa
se afastar um pouquinho e Harry, ainda de
olhos fechados, arfa em busca de ar. Ela
ouve um gemido? Sim, ele deixa um gemido
escapar da garganta.
Quando seus olhos finalmente se abrem,
encara Nina, desconcertado. O melhor beijo
da vida dele acaba de acontecer. E se
fizermos uma continha básica, Nina está com
tudo hein! O cara já beijou trinta e duas
bocas até hoje.
Finalmente a ficha cai e a garota retorna
para a Terra. Seus olhos se umedecem e ela
cambaleia, abalada. Ainda com os braços
entrelaçados ao pescoço de Harry, Nina
esconde o rosto no ombro dele. Ele a abraça
mais forte quando a escuta soluçar.
— Gancho, tire essa galera daqui. – Harry
cola os lábios à testa de Nina, cerrando as
pálpebras.
— Considere feito, man. – Gancho parte
para o alambrado, aos gritos. – Acabou o
show, moçada, todos voltando para os
quartos! Tomem banho direitinho que já é
hora do jantar, beleza? Bora, galera,
mexendo esses traseiros aí. E, Bárbara, pare
de fotografar, o show acabou, não ouviu?
— Vá se ferrar, Cabeçudo!
Nathália e Lais se entreolham, petrificadas.
Não sabem o que fazer para ajudar a amiga.
Talvez não haja nada a ser feito.
Nina e Harry continuam abraçados, ela
soluçando e ele apertando-a com mais força
contra o peito, sentindo um nó na garganta.
— Me desculpe. – ele sussurra.
— Eu fui humilhada. – ela diz para si
mesma, o som de sua voz abafado pela
camiseta dele.
— Não foi humilhada. – ele discorda.
— Não acredito que deixei isso acontecer. –
Nina se afasta e soca o peito de Harry.
— Pare com isso. – ele segura as mãos
dela, delicadamente.
— Você foi cruel, Harry. – Nina se
desvencilha daqueles braços fortes,
enxugando as lágrimas com raiva. – Eu odeio
você.
Nina assume uma postura endurecida, mas
a verdade é que está se sentindo vulnerável.
Harry a prende com os olhos e ela precisa fazer
uma tremenda força para se soltar.
Nathália se aproxima, enganchando-se no
braço da amiga, puxando-a para longe de
Harry:
— Venha, vamos sair daqui.
— Foi uma aposta, Nina, mas você tinha
escolha. – desolado, ele afirma acima do
barulho da chuva.
— É, eu sei, sou uma idiota. – Nina fala por
sobre os ombros, dirigindo-se para a saída da
quadra.
O garoto pega a raquete do chão e encara o
equipamento fixamente. O olhar matador do
cara já diz tudo e Gancho recua alguns
passos, não quer correr o risco de tomar uma
raquetada nas ideias.
— Harry?
— Ela vai me odiar para o resto da vida. –
ele divaga num balbucio.
— É claro que não. Foi uma aposta, cara. E
você deu alternativas, ela beijou porque quis.
— Não é bem assim, eu peguei pesado. –
Harry passa a raquete de uma mão para a
outra.
— Na boa, essa aposta não foi nada do
outro mundo. Amanhã isso já estará
esquecido, confie em mim. – Gancho tenta
confortar.
— Tudo isso é culpa dessa maldita Kibi dos
infernos. – trincando os dentes e reunindo a
pouca força que lhe resta, Harry lança a
raquete longe. O objeto gira no ar e a
ponteira finca como uma estaca no
alambrado verde.
— Puta merda! Que tiro certeiro, meu
irmão!
— Não serei mais chantageado, Cabeção.
Essa história termina hoje mesmo!
Nota da Autora: O.O Sem comentários! Juro essa cena me deixou sem comentários U.U kkkkkkkkkk' e vocês meus amores? o folego acabo? surtaram de vez? por que pelo amor de Deus, isso foi tão MAGIC, :3 nunca pensei que a Nina seria capaz de beijar alguém de novo e ainda por cima o Harry? Me pinta de rosa porque to bege kkkkkkk' .Beijos X Beijos.
PERFECT
ResponderExcluirQue bom que gostou Amora :3
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