(Balada Aquarium) |
Nina está de malas prontas.
Ajeita a bainha de tule do vestido preto e
calça as sapatilhas coloridas com strass.
Nathália e Lais aguardam no andar de baixo,
na companhia de Doc e sua turma
barulhenta.
A galera toda irá na inauguração do
Aquarium, uma boate na Vila Olímpia, em
que um dos sócios é amigo de Doc. Os
convites para a ala VIP foram disputados à
tapa e o irmão de Nina conseguiu dez deles,
na faixa.
A garota borrifa o perfume nos pulsos e
também atrás das orelhas. Dá uma última
olhada no espelho antes de descer para
encontrar as amigas.
Os pais de Nina foram ao cinema e a turma
de Doc está espalhada nos sofás e sobre a
bancada de mármore travertino da cozinha.
Várias latas de cerveja se empilham na pia e
sacos de amendoim e batatas fritas estão
abertos sobre as mesinhas de apoio.
Lais e Doc conversam num canto, próximos
demais. Nina os encara com curiosidade. Já
tinha percebido um clima, mas não faz ideia
do que esteja rolando entre esses dois.
— Pronta? – Nathi dá um pulinho ao ver
Nina. – Uau, Nina, esse vestido é um arraso.
— O seu também. – Nathália está usando
um vestido azul de alça única, na altura dos
joelhos, de um tecido bem estruturado. O
rabo de cavalo foi feito bem alto e algumas
mechas castanhas escapam, emoldurando
seu rosto cheio de sardinhas fofas.
— Todo mundo por aqui? Podemos ir? – Doc
recolhe os sacos de salgadinhos espalhados.
Nina observa Lais que permanece recostada
na parede, no outro canto da sala. A amiga
está deslumbrante num vestido estilo
indiano, com a cintura marcada por um cinto
de camurça. Um imenso colar prateado pende
de seu pescoço e nos pés, chinelos com
miçangas pretas. O cabelo avermelhado, bem
batido na nuca, sustenta duas presilhas
laterais que prendem a franja. Nina nota que
Lais está usando o bracelete de níquel
envelhecido que compraram juntas, na feira
de antiguidades.
— É impressão minha ou a Lais e o Doc
estão…? – Nina se vira para Nathi e não
termina a frase.
— É, eu também percebi um clima. –
Nathália balança a cabeça em concordância.
— Hum. Acha que devemos perguntar?
— Deixe ela nos contar. – Nathi tira um fio
de cabelo do vestido de Nina. –Não ficaria
chateada?
— Por que eu ficaria chateada? – Nina
franze o cenho, confusa.
— Sei lá, é seu irmão e sua amiga. – Nathi
dá de ombros. – Não que isso seja grande
coisa, não é traição nem nada.
— Eu acharia muito legal, de verdade.
~~***~~
O quarteirão do Aquarium está tomado por
carros de todas as marcas e modelos. Com
isso, é óbvio que o trânsito está um caos.
Uma imensa fila se forma do lado de fora da
boate e a maioria das pessoas não faz nem
ideia de que sem um convite, nada feito.
As três amigas caminham juntas, de braços
dados, vencendo os dois quarteirões que
separam o único estacionamento com vagas
da entrada do Aquarium. Lais não toca no
assunto Doc. Nina e Nathi fingem não terem
visto nada.
Doc e sua turma vem logo atrás e como
todo bando de garotos, começam a se bater e
empurrar a caminho da danceteria. Nesse
interim, uma Pajero recheada de meninas
surtadas para ao lado dos garotos. Doc dá
trela e Lais fecha a cara no mesmo instante.
Nina sente as unhas da amiga fincarem em
seu braço com força.
— Ei, não precisa arrancar a minha pele. –
Nina estremece e Lais se sobressalta.
— O quê?
— O que está rolando entre você e meu
irmão? – droga, Nina tinha prometido a si
mesma não perguntar.
— Nada. – Lais olha de esguelha para trás.
Seus olhos azuis ficam opacos quando veem
Doc e sua turma se derretendo para cima das
meninas da Pajero.
— Por sua causa ou por causa dele? – Nathi
se mete no assunto.
— Não está rolando nada, é sério. – Lais
suspira tristemente.
— Se um dia rolar, saiba que dou todo o
apoio. – Nina sente o aperto de Lais afrouxar
de seu braço.
— Obrigada, Nina. Mas é como eu disse:
Não está rolando nada.
Finalmente chegam à entrada da boate e
Doc e os caras se livram das garotas
oferecidas, para alívio de Lais. Pepino saca os
convites do bolso e entrega ao segurança. O
engravatado confere a autenticidade dos
mesmos e libera a entrada, carimbando os
pulsos com uma tinta néon.
O Aquarium, como o próprio nome diz, é
um imenso aquário, repleto de plantas
aquáticas e animais marinhos diversificados.
A danceteria é circular e cercada por paredes
de vidro curvas, que tomam toda a extensão
do lugar.
Nina fica boquiaberta quando vê uma
imensa arraia flutuando sobre sua cabeça,
ainda não tinha percebido que o aquário
também se estende por todo o teto da boate.
As garotas seguem Doc por um corredor
largo, no ponto mais alto do Aquarium. É o
único acesso para a ala VIP que não está
congestionado. A outra opção seria pelo meio
da pista de dança que, no momento, está
abarrotada de cabeças saltitantes.
A música techno rola solta em meio aos
efeitos especiais que vem de todos os cantos
imagináveis. Uma névoa colorida sobe pelo
chão, abraçando as pessoas até a cintura.
A ala VIP está bem mais tranquila, com
seus sofás imensos, mesas largas, um bar
privativo e garçons circulando com bandejas
repletas de bebidas coloridas. Nina aproxima-se
do parapeito de aço e dá uma sacada no
lugar. O Aquarium é simplesmente
fenomenal.
— Animada para a viagem de formatura? –
Doc precisa falar alto para se fazer ouvir.
— Acho que será legal. – Nina responde, ao
pé do ouvido do irmão.
— Está finalmente deixando a adolescência
para trás, Nina. É agora que a ralação
começa e a vida adulta vai massacrar você de
todas as formas.
— Ah, obrigada pelo incentivo! – Nina dá
um tapa no ombro de Doc.
— Já sabe o que fazer caso algum
engraçadinho resolva se meter a besta nessa
viagem? – Doc pergunta, vincando a testa.
— Joelhada nas bolas, soco no nariz e… o
que mais mesmo?
— Acerte no pomo de adão.
— Ok, fique tranquilo, ninguém vai se
meter a besta comigo.
— Ei, Nina, vamos para a pista? – Nathália
chama. Nina percebe que Doc e Lais trocam
olhares demorados e uma urgência em
ajudar inflama a garota.
— Vamos, Doc? – Nina convida, deixando a
bolsa sobre um dos sofás.
— Vamos para a pista, galeraaaaa?! – Doc
grita e Nina revira os olhos, tapando os
ouvidos.
~~***~~
apertada e acotovelante. Com alguns
empurrões, os amigos de Doc conseguem
abrir espaço para dançar.
O olhar de Nina é atraído para cima a todo
o momento, o colorido do aquário sobre sua
cabeça é inebriante.
Gente bonita e suada pula ao som do DJ.
Nina corre os olhos pela pista, observando
rostos descontraídos e maquiagens
escorrendo. Não é do tipo que curte baladas
como essa, mas adora uma novidade. Ela não
perderia essa inauguração por nada.
Quatro músicas depois e a garganta
queima, ressequida. Voltar à ala VIP está
fora de cogitação. O bar mais próximo fica a
uns seis metros de onde estão. Grita nos
ouvidos de Nathália e Lais, doida por
qualquer coisa líquida. As amigas concordam,
seguindo na frente.
— Onde vão? – Doc pergunta.
— Pegar água. Quer? – ela oferece, por
sobre o ombro.
— Não, valeu. Já sabe, hein… pomo de
adão. – Doc recomenda.
— Pode deixar. – Nina ri e segue para o
bar.
Passar entre pessoas pulantes e bêbadas
não é tarefa das mais fáceis. Nina desvia, tira
o pé do caminho, é empurrada e empurra
também. O lugar está claustrofóbico e a boca
de Nina está tão seca que nem a língua é
capaz de umedecer os lábios.
Uma mão toca em seu ombro e a puxa para
trás.
— Ei, pensei que sereias não existissem. –
um garoto sardento e até bem bonitinho
exclama. Mas a cantada é tão demodê que
Nina dispara a rir.
— Sereias costumam afogar garotos como
você, sabia? – ela rebate.
— Faria isso comigo, sereia? Qual o seu
nome, hein?
— Se eu disser o meu nome, terei que te
matar. – Nina tenta se desvencilhar, mas o
garoto sardento aperta seu braço com força.
– Será que dá para me soltar?
— Pague o pedágio que eu solto. É só um
beijo, você vai gostar.
Quando o garoto sardento aproxima-se
perigosamente, uma mão forte surge em
cena, agarrando Nina pela cintura.
Ok, congelemos o momento para uma
análise mais profunda.
Londres cidade gigantesca e as
chances de encontrar alguém conhecido
numa balada são nulas, correto? Engano seu.
Apesar de Sampa ser uma megalópole, as
baladas são sempre as mesmas, divididas em
bairros, classes sociais e estilos. As chances
de encontrar alguém conhecido numa
inauguração desse porte são imensas. Nem
vou entrar nos méritos do destino em ação,
porque sei lá, tem isso também.
Descongelemos o momento em 3, 2, 1…
— Dá o fora, mané! – Harry empurra o
sardento.
— Não me disse que estava acompanhada,
sereia. – o garoto fecha a cara e solta Nina.
— E não estou! – o tom dela é agressivo,
metralha Harry com um olhar irado.
— Nesse caso, dê o fora você, manezão! –
o sardento vira homem, pega o braço de Nina
e a puxa para si.
O sangue de Harry sobe nas alturas e ele
empurra novamente o sardento, com mais
força dessa vez. Nina nota que Gancho se
aproxima. O sardento quer briga e Harry
parece querer o mesmo. Ela está entre eles e
resolve apaziguar os ânimos.
— Pare com isso, Harry! – Nina precisa gritar
ao pé do ouvido do garoto, o que se mostra
uma péssima ideia. O aroma dele é uma
mistura de mistério e sedução que faz suas
pernas bambearem.
— Dê o fora, eu já falei! – Harry fecha o
punho no colarinho do sardento.
— Ei, ei, ei! – Gancho finalmente chega. –
Vamos deixar disso, beleza? – Gancho é da
turma do “deixa disso”, mas, quando
provocado, é da turma do “vamos matar todo
mundo”. – Leve a Nina daqui, Harry!
— Não vou com você a lugar algum! – Nina
tenta se livrar de Harry, mas o garoto é mais
forte. E da forma como ele a está abraçando
no momento, nem joelhada, nem soco, nem
pomo de adão surtirão efeito.
Nina procura as amigas no meio da muvuca
e as encontra. O bar fica um nível acima e
ambas estão acompanhando o que está
acontecendo na pista de dança, atônitas. Lais
levanta as duas mãos para o teto, não
entendendo nadinha do que está rolando.
— Ande logo, sem reclamar. – Harry passa
Nina à frente, prendendo-a como se fosse um
escudo protetor, obrigando-a a andar em
direção ao bar.
— Me solte, Harry!
— Quietinha, Nina, ou não ganha sorvete.– Harry sussurra em seus ouvidos e ela sente o
hálito de Mentos de frutas do garoto. Mentos
de frutas é golpe baixo.
— Isso não vai ficar assim!
— Já disse, fique quietinha.
— Me larga! – ela grita e cerra os punhos.
— Pronto, sã e salva. – Harry finalmente
afrouxa e Nina gira sobre as sapatilhas,
pronta para socá-lo. Mas algo a detém. Os
olhos dele, tão verdes quando o mar,brilhantes como esmeraldas.
— Eu sei me defender sozinha! – ela
exclama, inflamada de ódio.
— Eu vi. – Harry debocha.
— E aí, galera! – Gancho chega num pulo e
passa o braço sobre ombros de Harry.
— Deu um jeito no sardento? – ele
pergunta, sem desviar os olhos de Nina.
— O cara vai ficar sussa. – Gancho elucida,
soprando a franja para cima.
— Oi, Gancho. – se Nathi fosse uma
geleira, já estaria derretida no chão.
— Oi, Nathi, oi, Lais. – Gancho
cumprimenta.
— Pegaram água? – Nina sustenta o olhar
de Harry com sua famosa expressão “vou matar
você” impressa no rosto.
— Pegamos. – Lais responde. – Vamos
voltar para a pista?
— Fique longe de mim, Harry, eu estou
falando sério. – quando Nina tromba no
ombro dele ao abrir passagem, o garoto
sussurra em seu ouvido:
— Alguém já disse que você fica linda de
preto?
Nina não se dá ao trabalho de responder.
Range os dentes e continua a caminhar, sem
olhar para trás.
Nota da Autora: Que fogo em Nina !! Não sei não se ela vai aguentar o charme do Harry! Coitada ta sofrendo Bullying kkkkkk' E ae meus amores gostaram do capitulo? Qualquer coisa me avisem nos comentários .Beijos X Beijos.
PER-FECT
ResponderExcluirQue bom que gostou Amora :3
ExcluirLiamdo continua <3
ResponderExcluirContinuo sim Babe :3
Excluircontinuaa <3
ResponderExcluirClaro Amora :3
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